06/10/09

Vamos ler!

Vamos ler!
Folhear um livro é espreitar para dentro de uma caixinha sem chave, uma caixinha ao alcance das mãos e dos olhos. Não há segredos.
- Que tens tu guardado para me dar?
Perguntamos nós ao livro.
Aí o livro conta, não para de contar o que dentro dele tem guardado para nós.
Se, entretanto, nos sentarmos numa cadeira, de preferência de braços, por ser mais cómoda, e poisarmos o nosso amigo livro sobre os joelhos, esta conversa, que começa por ser hesitante e prudente, vai quase de certeza, demorar que tempos, o tempo de lermos o livro do princípio ao fim ou de fio a pavio, como também se costuma dizer.
(...) Terminado, fechado, o livro que nos deu prazer, fica-nos na memória, resiste ao esquecimento, ilumina ainda.
- Valho muito mais do que peso - diz o livro sem ser por vaidade. - Tenho tanta coisa, tanta surpresa, meus amigos, que só lendo-me se acredita.
Vamos então descobrir por nós o que ele tem para nos dar. Vamos ler!

António Torrado; O Manequim e o Rouxinol

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